Somos mais que um corpo: saúde mental e perspectiva existencial
- Victor Henrique
- 1 de out.
- 3 min de leitura

Você já saiu de uma consulta médica com uma lista de exames e receitas, mas com a sensação de que o seu problema não foi realmente escutado? Quantas vezes o cuidado em saúde parece se reduzir a números, diagnósticos e protocolos, deixando de lado aquilo que torna o seu sofrimento único: a sua história, os impactos em seus vínculos, seus medos e esperanças?
Essa forma de olhar para o ser humano não surge do nada. Ela faz parte de uma maneira histórica de pensar a saúde que, embora tenha trazido avanços, também carrega limitações importantes.
O ser humano como ser-no-mundo
A Filosofia Existencial através de Heidegger nos lembra que não existimos isolados, mas sempre em relação ao mundo. Somos seres-no-mundo: corpo, mente, emoções e cotidiano entrelaçados. O corpo não é apenas físico — músculos, órgãos e sintomas. Ele também é vivido: o frio na barriga de momento importante, o aperto no peito de uma perda, a pele arrepiada diante de uma maravilha.
Por isso, saúde e doença não se esgotam na biologia ou soluções medicalizantes. São modos de estar no mundo, atravessados por relações, condições de vida, histórias, sentidos e afetos.
Quando a saúde virou números e protocolos
Na modernidade, a ciência elegeu a matemática como linguagem privilegiada para descrever a realidade. Só o que podia ser medido, quantificado e enquadrado em leis universais era considerado verdadeiro. Tudo o que escapava desse crivo perdia valor.

Essa forma de olhar foi se espalhando para todos
os campos, inclusive a saúde. O corpo passou a ser pensado como uma máquina que pode falhar em suas peças, e a saúde como o simples funcionamento correto desse mecanismo.
Heidegger chama isso de um modo de desvelar o mundo — a técnica moderna: quando reduzimos algo apenas ao que pode ser calculado e controlado, corremos o risco de perder outros modos de sentido. O coração, por exemplo, vira apenas uma bomba de sangue, e não mais um lugar simbólico dos afetos, ou o órgão que dispara no susto, ou que dói num luto.
Essa lógica deu origem ao modelo biomédico. Trouxe avanços inegáveis — vacinas, cirurgias, antibióticos —, mas também nos prendeu a um olhar estreito, que reduz o viver àquilo que cabe numa estatística ou num exame. O que não pode ser medido, muitas vezes, não é escutado.
Quando o modelo reduz a vida
Esse modo de cuidado pode gerar consequências dolorosas. Uma pessoa que começa a usar substâncias após perder um filho pode ser encaminhada a um serviço focado apenas no consumo da droga. O luto, que é o núcleo de sua dor, permanece invisível. O tratamento não faz sentido e é abandonado.
Também há a culpabilização: quem sofre com ansiedade ou depressão ouve que “falta força de vontade”. Esse discurso ignora condições de trabalho, relações sociais, precariedade econômica e experiências de vida que dão sentido as experiências. Assim, intervenções que deveriam ajudar acabam piorando o sofrimento, gerando efeitos iatrogênicos — danos causados pelo próprio cuidado.
Clínica ampliada: um cuidado que escuta a vida
A clínica ampliada propõe que o cuidado em saúde vá além modelo tradicional que privilegia o corpo biológico, reconhecendo que o sofrimento humano nasce também das histórias, dos vínculos, das condições de vida e da forma como cada um habita o mundo.

É nesse espírito que se orienta a minha proposta de cuidado: um espaço para que você seja visto em sua singularidade, sem reduções a sintomas ou rótulos. Um espaço em que tanto o sofrimento quanto as experiências de sentido e de realização plena ganham lugar — onde podem ser acolhidos, trabalhados e integrados no processo de viver, abrindo possibilidades para modos próprios e autênticos para o seu existir.
Se você sente a necessidade de um espaço assim, a psicoterapia online pode ajudar nesse caminho.
